sábado, 16 de outubro de 2010

Devaneios III

Há dias difíceis, dias em que somos obrigados a pensar como seria viver sem alguém que amamos incondicionalmente: um pai, uma mãe, um filho...
Quando somos confrontados com a possibilidade, mesmo que seja remota, de perder alguém assim, é como se um buraco se abrisse no chão; vemo-lo formar-se sem, no entanto, lhe conseguirmos escapar.

Tenho tido desses dias, tenho tido essas angústias, que causam verdadeiro pânico interior.

Como um amigo me disse: "Quando recebo uma chamada fora de horas, sem estar a contar, fico sempre com medo de ser uma daquelas notícias avassaladoras. A partir desse momento o dia já não é mais o mesmo, fico a pensar como seria viver sem um dos pilares da minha vida, simplesmente não consigo sentir-me bem depois disso."

É bem verdade... hoje recebi uma dessas chamadas inesperadas, o coração saltou-me do peito e caiu no chão ao ouvir a voz lacrimante da minha mãe. Felizmente não foi a derradeira notícia, mas mesmo assim foi suficiente para abalar o meu mundo.

E que mundo este, num segundo ímpar pela sua beleza, no outro, impiedoso. Dizem-me: "É assim a vida meu amigo!" Eu aceno pesadamente com a cabeça e replico: "Pois, mas podia ser mais benevolente no timing, parece que não se contenta em abalar as fundações de tudo o que conheço e acredito, mas faz questão de juntar as peças e atirar-me com uma enorme bola de problemas, sem dó nem piedade."

Percorri 200 km em pouco mais de uma hora, acorri ao hospital para dar um abraço à senhora da minha vida que precisava desesperadamente de apoio. Anda tão cansada, posso vê-lo, posso senti-lo, contudo sinto-me impotente. Impotente porque não posso fazer nada para acalmar a dor, a não ser dizer que vai tudo ficar bem.

No meu íntimo não tenho tanta a certeza, mas falo-lhe com uma determinação e confiança que a fazem secar as lágrimas e procurar um optimismo perdido no meio de um mar agitado.

Saio, de uma urgência imunda e limpa, não consigo sentar-me, sinto-me observado, quero estar sozinho, apenas e só comigo.

E fico pensativo, de olhar baixo, sem vontade, sem capacidade para fazer nada; sinto-me, acima de tudo, petrificado com a mera visão de um vazio avassalador.

E fico em silêncio, que se transforma em solidão, num remoinho de incertezas e sentimentos contraditórios.




Rascunho escrito a 17 de Outubro de 2009.
Olhando e relendo este texto consigo ver em cada palavra a dor latente que, na altura, sentia. Não passou de uma miragem... ainda bem!

6 comentários:

Anónimo disse...

Silêncio; solidão; vazio!...

Talvez não exactamente por esta ordem, mas, em todo o caso, o reflexo das palavras que a angústia vai tornando translúcidas.

Depois, quando passa a penumbra, sabe bem voltar a saborear a textura de um sorriso. A substância de um abraço.

Teresa Santos disse...

Foi mesmo uma miragem? E tão sentida? Espero bem que sim!
É que a vida é composta por todas essas coisas; a vida é perita em nos "tirar o tapete".
Abraço.

Teresa Santos disse...

Olá Bruce,

Por onde andas?
Passo só para te dizer que tens um "miminho" no Crónicas.
Abraço.

Daniel C.da Silva disse...

Passo para deixar os votos interiores de um Natal com Paz, independentemente da concepção que se tenha dele.

Com amizade e um abraço

Lobinho

A disse...

Feliz Natal, Bruce! Faço votos para que 2011 seja um ano fabuloso!

Abraço.

Anónimo disse...

adoro, segui-te (: