quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cidade Deserta


Todas as manhãs, todas as tardes, todos os dias preso no trânsito... rodeado de indignações vocais anónimas vinculadas num profundo descontentamento e num ser, que olhado ao espelho, não existe; é fruto de todo este pérfido lodo.

Toda esta gente impaciente e acima de tudo intolerante co-habita uma estrada demasiado pequena para tantos egos reprimidos. É esta a realidade do "sonho urbano" que tanta gente procura, mesmo que isso signifique viver na miséria.

Apesar disto continuo todas as manhas e todas as tardes a embrenhar-me em tal mundo fantástico, este alberga as mais inverosímeis criaturas que normalmente existem no lado negro da força de cada um. É inevitável tal como é inevitável existirem conflitos no mundo.

Mas quando o Sol se põe, a noite chega e os grilos começam a cantar, tudo muda e parece que se cria um novo crepúsculo, desta vez imaculado.

Sinto-me mais à vontade nesta calma; olho as luzes no alto dos postes contíguos à estrada, os placares ganham vida e saltam cá para fora... uma rua de luz, um caminho fulminante, uma via inalcansável para uns, mas real para outros.

Sons cessam, olhares perduram no tempo, tudo é mais claro, tudo é mais delineado, tudo é mais real, sem desvios e sem preciosidades, tudo é vida pura e dura.

São mundos diferentes; eu, impostor num deles, verdadeiro no outro, contudo efémero em ambos, tento coordenar vontades e concentração.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Trilho


A mente suplica pela gaivota vigilante,
O sonho clama – porquê? porquê tão rude nudez?
A resposta está na alma protestante,
Viaja pelo reino inconsciente com avidez
Vive num mundo, ocupado pelo navio viajante
Que ruma ao sabor dos sentimentos
Feitos, imaginados pelo mais profundo ser.

Não há algodão nos sonhos,
Sonhos compostos por sofrimento
Contido, na parte mais profunda da mente,
Sonhada? Vivida? Nada mais do que um intento,
Tudo não passa de ignorância, que tormento!

O caminho árduo e sombrio, é percorrido,
Um único castelo de dor bloqueia o caminho,
Impávido e sereno, domina os céus,
Terra sombria de cor, marca o trilho pretendido
E ganha vida, vontade...pois sobre o véu
Paira o sonho de voar, agressivo
Ataca a metáfora de pedra dura,
E o castelo desaba, cai por terra, fura
A ignorância do ser lascivo.

Continua, confiante, o sonho fugidio,
Passos curtos e pesados ecoam,
Quatro budas voam levemente
Guiam-no, inseguro e renascido
Pela estrada da eterna iluminação,
Para libertar a sua mente
Prisioneira dos pesadelos, em vão.

É uma viagem solitária,
Uma jornada do ser interior,
Vive um período de intenso rigor
Pois a vida não espera,
Vem! Clama o sonhador,
Morte – para uns, eterna causa de dor,
Para outros, derradeira libertação do senhor.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amor Aeternus

Predispus-me hoje a falar de um assunto, ou melhor de um sentimento disfarçado de vida, ou se quisermos até, de uma vida disfarçada de sentimento. Uma força que nos impele a fazer coisas que nunca pensámos fazer, uma viagem que nos leva a quebrar leis e vontades adquiridas ao longo de todo o processo de privação de tal rejubilo.

Desconfio que a designação de tal substantivo abstracto, às vezes concreto e outras até pessoal, já é conhecida por todos vós; refiro-me, portanto, ao amor!

Analisando as letras que fazem parte desta simples e complexa palavra, constato que esta possui 2 consoantes e 2 vogais, um paralelismo com os sexos feminino e masculino, cujas personalidades visitam cada som vinílico do a-m-o-r de uma forma terminantemente diferente. Será esta assumpção correcta ou é apenas uma coincidência inusitada?

Vou descortinando alguns significados pendentes dos sons apocalípticos que me chegam; sim, porque no amor não há fronteira, não há caminho certo nem errado, mas certamente existe um campo de batalha, no qual somos atacados e abençoados de todas as frentes.

O amor é uma fortaleza paradoxal, que se construído em pilares de areia ao menor obstáculo desmorona. É realmente confuso, este sentimento capaz da escuridão e da luz num segundo apenas. Contudo não devemos teme-lo... é a coisa mais bela da nossa pequena existência!

É um estado de espírito que implica uma panóplia extraordinária de sentimentos, sentimentos capazes de nos catapultarem para o céu ou de nos impingirem uma gravidade avassaladora.

Amar é ter ânsia de rever a outra pessoa, o sentimento de falta que nos persegue e nos come por dentro, apenas e só pela vontade insuperável que é ver a nossa cara metade; é saber que a nossa alma gémea é a nossa melhor metade, fazendo-nos pessoas melhores a cada momento passado, a cada beijo tomado; é ser louco, é amar a um ponto de loucura não obsessiva, é viajar no pensamento com a necessidade de um abraço; é ser compreensivo, paciente e carinhoso, pois sem eles não haverá amor, existirá apenas fogo de paixão, essencial ao amor, mas este desprezável à paixão; é ter saudade sempre, há palavra mais bela que saudade? Tão forte, tão real e ao mesmo tempo inverosímil... Amar, mas verdadeiramente amar é ter a certeza que esta vida não chega para satisfazer o desejo de partilha, de união e companheirismo...

Viajando pelo mundo abstracto, e como romântico que sou, tendo a ter uma visão muito particular dos pequenos pormenores, que nem sempre me levam por bons caminhos e por boas interpretações, mas que fazem inevitavelmente parte de mim (organismo vivo) e de umas quantas luzes cerebrais muito próprias.

Empurrado por algumas sinapses cantantes, eis que dou por mim entoando, tal tritão errante, uma frase solta que resume, de uma forma notável o meu sentimento sobre todo este assunto chamado amor:

"The greatest thing you'll ever learn is just to love and be loved in return!"

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Menino Insolente


Quem é o menino insolente
Que percorre o tempo e espaço,
Gesto singelo e inocente,
Sentimento impossível, devasso.

Deambula pelo rosto da água,
Contemplando as partículas dos seres,
Sorriso indefinido, despido de mágoa,
Basta sonhar para viveres.

Aquela atitude sincera
Desperta sorrisos,
Voluptuosa criatura
Repelente de juízos.

Os anos irão certamente
Penetrar no seu ser,
Irão abrandá-lo lentamente
Sem pensar em sofrer,
Obrigação cumprida objectivamente.

Os sorrisos apagar-se-ão,
Os membros agitar-se-ão fervorosamente
Em movimentos frenéticos, sem aparente razão,
Embora a razão seja uma somente,
Ele, o menino insolente.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Devaneios Outonais


Porquê?

Porquê este sentimento que me acelera o coração, que me faz sentir cada músculo do corpo isolado… que sentimento é este que me queima o espírito, desfaz tudo o que construí?

Porquê? Tem tudo que ser assim?

Eu quero apenas sonhar, quero apenas viver feliz, então porque me atormentas desta maneira?

Porque me dizes para me abrir contigo, se cada vez que o faço provoco uma tempestade?

Porquê? Será que apenas queres ouvir o que compreendes? Será que apenas queres compreender a tua realidade e abstrair-te das minhas preocupações?

Não sou eu o teu melhor amigo?

Não posso eu contar-te tudo?

Não posso eu confessar-te tudo?

Porque preciso de medir as palavras para falar com a minha alma gémea? Não és tu a minha alma gémea? Eu tenho a certeza que sim…

Falo pois quero aperfeiçoar-me, quero aperfeiçoar-nos... nada é perfeito e é, no mínimo, irresponsável assumir que a nossa vida, o nosso amor não tem problemas… Ele enfrenta desafios, obstáculos a ultrapassar, tal como os salmões que sobem rio acima, calmamente, até alcançarem o lugar divino…

Será um tabu, falar contigo sobre certos assuntos? Serás um mapa invisível? Mas se és porque não te mostras completamente a mim?

Não confias em mim?

O meu coração não está sempre contigo? Não estou sempre lá quando precisas?

Serei indesejado quando não precisas? Começo a pensar que sim…

Começo a ter medo que seja verdade… não sou alma para ser deixado, para ser confinado a um plano inferior…

Quero viver a vida sem medo, sem receio que tudo desmorone, não posso ter esse fantasma sobre mim…

Quero apenas ser amado, quero pensar que vivo um sonho, o meu sonho, e nunca acordar dele…

Porquê?