Há dias difíceis, dias em que somos obrigados a pensar como seria viver sem alguém que amamos incondicionalmente: um pai, uma mãe, um filho...
Quando somos confrontados com a possibilidade, mesmo que seja remota, de perder alguém assim, é como se um buraco se abrisse no chão; vemo-lo formar-se sem, no entanto, lhe conseguirmos escapar.
Tenho tido desses dias, tenho tido essas angústias, que causam verdadeiro pânico interior.
Como um amigo me disse: "Quando recebo uma chamada fora de horas, sem estar a contar, fico sempre com medo de ser uma daquelas notícias avassaladoras. A partir desse momento o dia já não é mais o mesmo, fico a pensar como seria viver sem um dos pilares da minha vida, simplesmente não consigo sentir-me bem depois disso."
É bem verdade... hoje recebi uma dessas chamadas inesperadas, o coração saltou-me do peito e caiu no chão ao ouvir a voz lacrimante da minha mãe. Felizmente não foi a derradeira notícia, mas mesmo assim foi suficiente para abalar o meu mundo.
E que mundo este, num segundo ímpar pela sua beleza, no outro, impiedoso. Dizem-me: "É assim a vida meu amigo!" Eu aceno pesadamente com a cabeça e replico: "Pois, mas podia ser mais benevolente no
timing, parece que não se contenta em abalar as fundações de tudo o que conheço e acredito, mas faz questão de juntar as peças e atirar-me com uma enorme bola de problemas, sem dó nem piedade."
Percorri 200 km em pouco mais de uma hora, acorri ao hospital para dar um abraço à senhora da minha vida que precisava desesperadamente de apoio. Anda tão cansada, posso vê-lo, posso senti-lo, contudo sinto-me impotente. Impotente porque não posso fazer nada para acalmar a dor, a não ser dizer que vai tudo ficar bem.
No meu íntimo não tenho tanta a certeza, mas falo-lhe com uma determinação e confiança que a fazem secar as lágrimas e procurar um optimismo perdido no meio de um mar agitado.
Saio, de uma urgência imunda e limpa, não consigo sentar-me, sinto-me observado, quero estar sozinho, apenas e só comigo.
E fico pensativo, de olhar baixo, sem vontade, sem capacidade para fazer nada; sinto-me, acima de tudo, petrificado com a mera visão de um vazio avassalador.
E fico em silêncio, que se transforma em solidão, num remoinho de incertezas e sentimentos contraditórios.
Rascunho escrito a 17 de Outubro de 2009.
Olhando e relendo este texto consigo ver em cada palavra a dor latente que, na altura, sentia. Não passou de uma miragem... ainda bem!